Vendeu o Cachorro, Mas Comprou a Bíblia e Poder da Oração
Crônicas Para Rir e Chorar - Juarez Azevedo
VENDEU O CACHORRO, MAS COMPROU A BÍBLIA
O cachorrinho guarani latiu três vezes, e entrou para dentro de casa, ao ouvir a ordem de seu dono, um menino de nove anos, chamado Silvano.
- Entra, vai! Entra! Guarani!
- Que cachorro mais obediente! - Exclamou, admirado, o homem que passava um tanto apressado.
Voltando-se para Silvano, o homem botou preço no cãozinho.
- Quer vender o animal?
- Não é para vender, não, meu Senhor. - Respondeu Silvano.
- Dou R$ 50,00.
- Não vendo não. - Disse o menino.
- R$ 60,00.
- Por dinheiro nenhum. - Replicou Silvano.
O homem andou até mais adiante e, de lá, antes de dobrar a esquina, ainda propôs ao menino:
- Dou R$ 70,00. Se quiser, é só me procurar do outro lado do caminho.
Guarani era um cachorro lindo. O seu pelo de um branco-preto acetinado, brilhava ao sol; o rabinho, enroscado e as orelhas um pouco caídas davam-lhe, assim, um porte elegante, como se fosse um cão de pura raça. Silvano amava Guarani e divertia-se vendo as suas brincadeiras, e alegrava-se com o balançar do rabinho do cachorro, a cada vez que os dois se encontravam.
Silvano era um menino pobre, com residência na subida do morro, num bairro onde se situava uma favela sem qualquer assistência das autoridades, onde milhares de casebres abrigavam milhares de necessitados e miseráveis, e, onde se localizam os antros e esconderijos dos marginais mais perigosos da cidade.
Silvano era um menino sério, intropectivo, compenetrado, acostumado ao trabalho desde cedo; não tomava parte nas brincadeiras próprias das crianças de sua idade. De manhã, geralmente, ia à escola, e à tarde, nas horas em que não havia aula, ajudava o pai, empurrando uma carrocinha pequena e frágil, vendendo pipocas nas ruas da cidade.
Um dia Silvano foi levado à Igreja e, desde aquele dia, começou a sentir-se um crente de verdade. Insistiu, certa vez, com a mãe para assistir ao culto e ela se converteu. Depois, levou o pai, irmão Severino, que viveu e morreu dando um belo testemunho de crente. A irmã também tornou-se crente, e os irmãos menores estão sendo orientados, desde cedo, seguindo os ensinos de Jesus. Silvano têm sido uma bênção para a família.
Durante algum tempo, Silvano tinha um desejo que não revelava a ninguém, a não ser a sua mãe, a irmã Lúcia: Possuir uma Bíblia como os outros crentes.
- Se vire. - Dizia a mãe. - Arranje alguma coisa para fazer, faça um biscate qualquer, junte dinheiro e compre sua Bíblia.
Silvano não sabia pedir. Fazia tudo para juntar a quantia necessária à aquisição da Bíblia.
Às vezes, saía de manhã cedo para a lagoa, pescava uns peixinhos, vendia-os, mas o dinheiro apurado só dava para ajudar o já limitado orçamento da família.
Certa vez, Silvano chegou com o apurado da venda dos peixes que pescara na lagoa. Se dispusesse de mais uma quantia, poderia comprar a sua tão desejada Bíblia.
- Venda o cachorro. O homem não ofereceu R$ 70,00? - Falou-lhe sua mãe.
Silvano pensou, depois tomou a decisão e gritou alto:
- Guarani! Guarani! Guarani!...
Como sempre, o cãozinho atendeu depressa à voz conhecida do seu dono, e apresentou-se dando saltos e de com a cauda balançando. Silvano levantou o cachorro nos braços e afagou-o demoradamente, num gesto final de despedida.
Duas lágrimas grossas e sentidas, rolaram sobre a face do menino. Silvano entrou para o quarto e chorou copiosamente.
Na quarta-feira, culto de oração, lá estava Margaret, irmã de Silvano, de Bíblia nova, mostrando a todos a beleza do livro adquirido, quando Silvano entrou apressado e, com energia, toma a Bíblia da mão de Margaret e exclama aborrecido, como se a irmã tivesse cometido um sacrilégio.
- Você não sabe que esta Bíblia só vai ser estreada no domingo? Ela me custou muito sacrifício.
No domingo à noite, alegre e felíz, chegava Silvano à Igreja, com a sua Bíblia nova embaixo do braço. todos queriam ver, e Silvano, orgulhoso, mostrava o Santo livro, adquirido com suor e muito sacrifício.
Mas, em sua casa, Guarani não latia mais, nem o recebia, cada tarde, de cauda balançando.
Silvano vendeu o cachorro, mas comprou a Bíblia Sagrada.
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P O D E R D A O R A Ç Ã O
Com a Bíblia na mão, aguardo o elevador do hotel, para descer e ir à Igreja, num domingo de manhã.
- O Senhor é crente? - Pergunta-me uma jovem senhora, empregada do hotel, cujo olhar, triste e desconsolado, pareceu-me demonstrar um estado de dor e aflição profunda.
- Que é que está havendo? - Perguntei.
Duas lágrimas desceram dos olhos da jovem, e ela suplicou-me:
- O Senhor vai à Igreja? Por favor, ore a Deus por minha filhinha de três anos, que deixei doente, com febre alta, sob os cidados do vizinho, e tive de vir trabalhar.
- E a senhora é uma crente? - Insisti.
- Não. Não sou crente, mas confio muito nas orações de vocês. São orações poderosas...
Fiquei surpreso. Como é que pode uma pessoa que não é crente crer no poder da oração feita pelos crentes, demonstrando uma certeza inabalável, esperando uma resposta positiva de Deus se a Igreja orasse por sua filha! Meu Deus, como eu sou fraco, como meus irmãos são fracos, como existem tantos crentes fracos neste mundo! Os não-crentes crêem e nós não cremos.
Na Igreja aonde fui, pedi para que orassem pela criança doente. Uma crente idosa fez a súplica com sensível emoção, Uma semana depois, reencontrei a jovem que, alegre e descontraída, falou demonstrando muita gratidão:
- Olhe, eu quero lhe agradecer porque o Senhor orou por minha filha. \De repente, ela ficou boazinha.
Calado, estava, calado fiquei. Com vergonha, e, dentro de mim, como que uma voz me segredava censurando-me: "Tu usas muito pouco o poder da oração." Aprendi a Lição.
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